Batucada brasileira na Festa da Ribera

Fotos: Anamaria Rossi

Descobri finalmente a razão de estar acordando e dormindo com música nos últimos dias: a Fiesta de la Ribera.

Barcelona é uma cidade que vive em festa (há uma seção dedicada ao tema no site oficial da Prefeitura!). Cada bairro tem sua festa anual, que costuma durar uma semana e toma conta de todos os espaços públicos, sobretudo as ruas.

Desembarquei aqui no meio da Fiesta de Gràcia, em meados de agosto. Gostei tanto que comecei a buscar um piso para alugar por ali. Mas acho que me dei bem vindo parar no Born, a parte baixa da Ribera, separada do Mediterrâneo pelo pequeno triângulo urbano da Barceloneta.

A Ribera é um dos três bairros da Cidade Velha. Fica à direita da Via Layetana. À esquerda, entre a Layetana e a Rambla Catalunya, está o filé mignon da Cidade Velha, o Bairro Gótico. Da Rambla para a esquerda estamos no Raval. Na parte alta da Ribera está o Mercado de Santa Caterina; na parte baixa, o Passeig del Born, onde tive a sorte de vir morar.

A Fiesta de la Ribera é bem diferente da Fiesta de Gràcia. Em Gràcia, um antigo pueblo que se converteu num reduto catalão na cosmopolita capital da Catalunya, o grande barato é a disputa de vizinhança para saber que rua tem a decoração temática mais criativa e a programação mais inusitada. Uma festa do bairro para o bairro, embora receba gente da cidade toda.

Na Ribera, a festa é o reflexo da miscelânea étnica e cultural que é marca registrada do bairro. Durante o dia as ruas são percorridas por apresentações musicais itinerantes, que começam ali pelas 11 da matina e só terminam por volta das quatro da tarde, quando bate a fome na moçada. À noite, o palco instalado atrás da Catedral de Santa Maria del Mar, no Passeig del Born, recebe espetáculos de todos os tipos e para todos os gostos, gratuitos e a céu aberto.

Na quinta-feira dormi ao som da música eletrônica de um espetáculo de dança multimídia. Ontem fui despertada por uma banda de coreto, e à noite só consegui pegar no sono depois de um show que começou com pop-rock e terminou com baladas emo em catalão, entoadas pela multidão de adolescentes.

Hoje foi dia de interromper a faxina e correr ao balcão para conferir de onde vinha a batucada. Não deu outra: a tropa brasileira de uniforme laranja e um Sambão estampado no peito já estava quase passando debaixo da minha janela. Eu nem sabia que tinha tantos vizinhos: até as velhinhas saíram aos balcões e ensaiaram um requebrado. Não ficou ninguém parado!

Agora à noite, mais roquenrol na praça, desta vez em castelhano e inglês. Vamos ver o que me espera amanhã cedo!