sábado, 5 de setembro de 2009

Sons de Tóquio e da Catalunya

Fotos: David Coll Blanco

Hoje é sexta-feira e choveu em Barcelona, o que atrapalhou meus planos de ir a pé até a biblioteca que fica atrás da Ronda Guinardó. Então fui ao cinema. Cine Nàpols, aqui pertinho de casa. Ver o quê? Mapa de los sonidos de Tokio, da espanhola Isabel Coixet (Minha Vida sem Mim).

Bah! diria Karen, companheira de piso. Em catalão sem legendas? (Aliás, Karen não diria nada, ela fala catalão!). Vamos embora, Pedro, vou pedir meu dinheiro de volta. Me enganaram. Pedro, como bom escorpiano, me desafiou a ficar. Armei uma tromba e fiquei – sou do tipo que topa desafios.

Pedro dormiu mais da metade do filme. Eu não, ainda bem! Fiquei de olhos pregados na tela, tentando entender o que se passava e me deliciando com as magníficas imagens de Tóquio, uma das cidades mais fascinantes que já conheci.

Nada a ver com Lost in translation, de Sofia Coppola (que eu adoro!), embora eu estivesse totalmente lost na translation. Não posso falar com certeza, porque acho que entendi só metade do que ouvi – imagine atores japoneses falando em japonês e dublados em catalão! Mas de tudo o que entendi o que me tocou foi a idéia de que uma criatura pode se transformar, ou ser transformada, quando descobre “a chama” dentro de si. Aquela chama que é a razão – até então desconhecida - de ser, estar, existir. É o que acontece com a matadora japonesa (Rinko Kikuchi, de Babel). Lindíssima, aliás!

O filme é absolutamente feminino, mas não aquele feminino suave de Sofia Coppola. Sem perder a delicadeza - que aliás é a marca do filme, sobretudo no registro e no uso dos sons da cidade - Isabel Coixet mergulha nos claros e escuros da personagem, que ganha a vida destroçando peixes num frigorífico e dá à sua sombra o status de matadora de aluguel.

A pedra em seu caminho é o espanhol David (Sergi López, bueníssimo!), “encomenda” de um executivo cuja filha suicidou-se por causa dele. Uma pedra que muda o curso das águas, com direito a algumas das melhores cenas de sexo dos últimos tempos, num quarto que reproduz um vagão de metrô, num idílico Hotel Bastille, ao som de La vie em rose. Imperdível!

Bueno, cada um vê o que quer, e quando não se decifra completamente o texto fica ainda mais fácil. Melhor mesmo é assistir de novo - em espanhol, por supuesto.

Just in case, segunda-feira faço minha matrícula no curso de catalão para adultos. Grátis.

8 comentários:

  1. Acho catalão uma língua linda. Já até tive umas lições rápidas pela internet. Juro que um dia vou aprender.

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  2. Ana,

    Acredito que a experiência de ver um filme, pela primeira vez, sem entender quase nada do que falam seus personagens, tem toda uma sorte de encantos. E você bem o prova em seu texto.

    Vários elementos na sua crônica suscitam divagações: Japão, Babel, Sofia, Encontros e Desencontros, enfim... Mas, fico por aqui .

    Boas aprendizagens !

    Beijos

    P.S.: ( Gosto muito do Sergi López em 'Uma Relação Pornográfica') .

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  3. eu estava em Barcelona - Arenys de Mar, para ser mais preciso e os alcaides do lugar me convidaram para uma missa. Como declinar um convite dos meus hospedeiros? Fui... claro que nada daquilo me interessa nada e eu me deixei divagar... de repente, percebi que tudo que o oficiante falava esteve completamente compreendido por mim. Para entender o catalão, nao tente compreender. Não preste atenção. Ele entra sem ser analisado e tem muita coisa do português. Talvez até mais do que o castelhano. Nos sons, eu digo, por que amb ser com, aparentemente nada! pa amb tomàquet: feche os olhos e fale rápido... é mineiro falando pão com tomate.
    Aliás, já comeu pão com tomate aí?
    beijos

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  4. Gê,
    é exatamente isso! Quando me deixei levar pela onda do filme, sons e imagens, e parei de pensar nas palavras, deixando que o som entrasse pelos meus ouvidos sem tentar usar meus códigos, comecei a entender o catalão sem me dar conta. Na verdade, comecei a entender a história, entrei no filme, e posso te garantir que sou capaz de reproduzir diálogos inteiros! Mas antes vou assistir em espanhol para me certificar... rs...
    Concordo com o Wellton ali em cima: o catalão é lindo! Vou mesmo estudar a língua, porque ela me soa muito melhor que o castellano, mais natural, mais íntima, menos formal - tem mais a minha cara. Estou encantada!
    Beijo.

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  5. Bingo, Adriana!
    Eu sabia que conhecia esse ator de algum lugar... e que ele me inspirava, digamos, um certo calor. Uma Relação Pornográfica foi um dos filmes mais encantadores que já vi. Vou procurá-lo na rede.
    Tks. Bj.

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  6. Oi Aninha.... minha irmãzinha mais velha querida.....
    Fico feliz e orgulhoso de receber notícias suas....e saber que está indo bem...
    Desculpe num ter escrito nada antes....o trampo tá pegando forte pro meu lado...viagens e tudo mais possível......aqui em casa tá tudo ótimo...crianças, mulher, pós-graduação, contas etc. Léo Rossi e família estão aqui em casa este feriado... vamos curtir bastante (imagine o estoque de cerveja né?)...
    Quando leio as coisas que vc escreve fico imaginando um livro seu...seria fantástico...vc tem uma habilidade imensa de transmitir o que sente e passa...vai nessa. Beijos grandes e cheios de amor do seu irmãozinho caçula e sua família...

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  7. Olá Ana, saudades!

    Tenho acompanhado... e adorado, seus relatos, histórias, dicas! Dá uma vontade danada de cometer também uma "loucura sensata" e partir prá essas bandas. Beijo grande! Orieta.
    PS- Estou postando na conta da minha filha Raquel

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  8. Orieta, fuefa, que bueno que estás acá! Venga!
    Besos.

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