A primeira pode ser descrita no espaço: oito quilômetros entre Gràcia e o Passeig del Born, indo e vindo por ruelas as mais improváveis, visitando um piso aqui outro ali, anotando telefones anunciados em plaquetas, e – é claro - conferindo as últimas rebajas, que ninguém é de ferro.
Mas essa distância também pode ser medida no tempo. Séculos de desenvolvimento separam a bonança e o requinte de Gràcia da obscuridade e quase miséria de algumas ruazinhas da Ribeira, na Cidade Velha, a despeito da antiguidade dos edifícios de ambos os bairros.
E, se quisermos ir mais longe, há uma distância geopolítica entre esses dois mundos. Gràcia é quase que um reduto catalão, mais que espanhol. Por suas ruas limpas e praças arborizadas se vêem, a qualquer hora, velhinhos empurrando carrinhos de supermercado e crianças bem vestidas brincando sem maiores problemas.
Sem falar no magnífico Passeig de Gràcia, larga avenida que atravessa boa parte do bairro e concentra, em poucos quilômetros, os maiores bancos, as melhores grifes e duas das mais importantes criações de Gaudi, a Casa Milà (
A Praça Catalunya é o ponto de encontro entre a tranquilidade de Gràcia e a mais completa anarquia étnica e urbana da Cidade Velha. Ampla e ensolarada, a praça é, para mim, o coração de Barcelona, democraticamente compartilhada por turistas endinheirados, músicos de rua, lambe-lambes da era digital, mendigos, estudantes, trabalhadores, vadios, brancos, negros, amarelos, vermelhos e o que mais se puder imaginar. Além de umas dezenas de pombos, é claro.
Ali começou o segundo trecho da primeira viagem. Eram 6 horas da tarde e eu deveria estar às 8 da noite no Passeig del Born, para ver os dois últimos apartamentos do dia. Tudo bem, eu poderia pegar a Via Laietana e baixar em linha reta, levaria meia hora, mas quem disse que consegui? Me embrenhei pelo labirinto de ruelas do Bairro Gótico, dando voltas e mais voltas, cruzei a Laietana e acabei no labirinto de ruelas da Ribeira, onde eu quase fui morar.
É simplesmente irresistível circular por ali sem olhar para o relógio, tamanha a diversidade de tribos, cheiros, visuais, fachadas, recantos, pichações, mercadorias, bares, forns de pa, caminhos e descaminhos. Uma criatura simplesmente se perde entre tantas possibilidades. E que delícia perder-se num mundo tão vasto!
Mas, como diz o poeta Gil, “é preciso estar atento e forte”, porque a coisa nem sempre é bonita. Há sujeira e bosta de cachorro, becos sombrios, figuras assustadoras, prédios se desmanchando, umidade, claros e escuros e um cheiro de esgoto que fica impregnado em suas narinas.
E foi bem no meio dessa viagem, antes de chegar ao destino final, que aconteceu, como que por milagre, a segunda viagem do dia – a viagem dentro da viagem. Foi como fazer um tour pelo Mediterrâneo – incluindo sul da Europa, norte da África e um pedaço do Oriente Médio – em 20 minutos a pé.
Eu já estava quase cruzando a Carrer de l
Me fingi de morta e tentei passar sem ser vista, embora a probabilidade fosse pequena, pois eu era a única mulher num raio de
Saí dali meio tonta e quase perdi a hora da visita ao penúltimo apartamento do dia. Acabei a jornada numa creperia francesa que serve Cosmopolitan e Caipirinha de Ipioca, atendida por um garçom brasileiro e uma camarera uruguaia.
Não sei o que seria de mim sem o Google Maps!
Bônus
bem vinda! ;)
ResponderExcluirAnamaria, vc está ficando craque nessa coisa, o Blog está cada vez + multi - multimídia, multipercepções, multiemoções, multituuudo. Essa sacada da viagem ao Mediterrâneo numa só quadra foi o "OH", levou-me eu também a flanar por ali, "vendo" as imagens descritas e imaginando ainda outras, sentindo os cheiros, andando naquelas ruas. Gracias chica pela passagem grátis!
ResponderExcluirMarcita, isso é só uma pequena amostra desta cidade maluca, bom mesmo é ver ao vivo.
ResponderExcluirVenga! Tô te esperando.
Beijo.
Irei! Me aguarde...
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