segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Fora do ar *


Aviso aos 30 fieis leitores deste blog
que a casa esta fechada ate que
a *$x-+*6#2 da Telefonica
resolva me reconectar com o mundo.


* Perdao pela falta de acentos, nao os encontrei no teclado da Karen.

domingo, 27 de setembro de 2009

Pequeno milagre da Virgen de la Mercè

Eu já não dava nada pela noite quando Angélica ligou convidando para um espetáculo de malabarismo no Parc de la Cuitadella. Grátis, ao ar livre e perto de casa. Fiesta de la Mercè. Caminhei uns 500 metros e estava lá.

Os malabaristas não foram - ainda bem! No palco montado ao ar livre quem apareceu, para nosso deleite, foi o trompetista sérvio Marko Markovic, acompanhado da orquestra do pai, Bodan Markovic, que não estava lá.

Bodan é considerado o rei do trompete sérvio, o "cigano mágico", mais conhecido no mundo ocidental depois de participar da trilha sonora de Underground - Mentiras de Guerra, de Emir Kusturica, em 1995.

Marko, esse moço aí de baixo, não deixa nada a dever ao pai. Nada mesmo. O rapaz é um escândalo no trompete, tem um suingue que não deixa ninguém parado e comanda a orquestra com a intimidade de quem nasceu e cresceu com ela. O mais intrigante foi ouvir o público catalão cantando com ele algumas das canções - em sérvio!


Desconfio que foi um daqueles pequenos-grandes milagres que a vida nos reserva, especialmente quando estamos desatentos. E para não deixar dúvida quanto a isso, a santa padroeira que cuidou do script da noite programou uma festa com queima de fogos bem ali na Barceloneta, logo atrás do palco, pipocando no céu feito um Ano Novo em Copacabana.

O show de luz fica por conta da sua imaginação, mas a música de Marko e Bodan Markovic você pode ouvir clicando aqui e aqui.

Neste vídeo, pai e filho tocam juntos, em 2008, no festival de trompete que acontece anualmente na pequena cidade de Guca, na Sérvia.



Vou dormir que aqui já é amanhã. Volto depois para contar como foi a Fiesta de la Mercè.

sábado, 26 de setembro de 2009

Porque hoje é sábado...

... e o amor continua lindo.


Aqui uma versão para cantar a dois.

¡Madriz me mata!


Por Graça Freire *

Está correto. É assim mesmo, Madri com z ao invés de d no final, como se escreve em castelhano. Com a língua entre os dentes, o z com o som de s aspirado, com castiça pronúncia madrilenha.

Dessa maneira se pronunciava e se escrevia a expressão em camisetas, postais e cartazes vendidos nos museus e bancas de jornal de Madri lá pelos anos 90. A expressão tinha (ou ainda tem?) relação direta com a agitada Madri - a movida madrileña que, por sua vez, faz referência à que Madrid no duerme.

Por si, o madrilenho tem fama de festeiro, e salir de copas é correr os bares, de balcão em balcão, ou de barra en barra, bebendo cañas e picando tapas, dispostas aos olhos do freguês atrativamente decoradas, cobradas pelo número de palitos usados, deixados sobre o prato.Em bom português, beber um chope no cristal, beliscando tira-gostos, em pé, no balcão.

Grupos de amigos, sempre com alvoroço, entram e saem dos botecos das ruas que cortam o Centro de Madri.

Ah, Madri, Madrid, Madriz...

Mas nem só de cañas, de barra en barra, de tapas y bocadillos, se podia curtir a movida madrileña.

Lembro-me que bom mesmo era beber um vermouth, (também com th dito entre dentes), jorrando de um tonel de carvalho, por uma torneira de prata, caindo em um copinho daqueles de beber pinga aqui no Brasil. Não em pé, mas sentados, a uma mesinha escura, toalha xadrez, o olhar dividido entre o mural azulejado e aquela sua inesquecível mirada, por trás das lentes que o deixavam ainda mais misterioso.

Era em Chueca, o bairro das letras, dos boêmios, dos poetas, mas também dos drogadictos largados por suas vielas. Eram as meias-manhãs de sábado, fossem frias ou quase ensolaradas.

Era a Madriz que parece, ainda, querer me matar de saudades.

* Graça Freire, 56 anos. Por profissão, bióloga e professora universitária. Por prazer e paixão, as artes-plásticas, o artesanato e a poesia. Morou e estudou em Madri de 1987 a 1991. A expressão Madriz me mata, durante esse período, lhe serviu de bordão em muitos momentos.

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Y tú que sabes?

Com esta coluna inauguramos aqui, neste modestíssimo blog, um espaço para colaborações – em texto, foto, poesia, desenho, vídeo, piada e o que mais a imaginação mandar.

Por favor, não se acanhem. Afinal, estamos na vida é para isso mesmo: compartilhar!

Idéias para anamariarossi@uol.com.br.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O postre que virou post *

Neste dia em que não fui à Fiesta de la Mercè, tenho algo especial para os 30 leitores deste modestíssimo blog: um postre. Mais que um postre, uma sobremesa estética. Em perfeita harmonia com a fartura cenográfica desta cidade loucamente colorida e criativa.

Não me perguntem como uma simples Sopa de Chocolate con Helado de Mandarina pode fazer alguém tão feliz. O fato é que meus olhinhos brilharam quando li no cardápio e rapidamente traduzi para meu universo gastronômico: Sorvete de Tangerina com Calda de Chocolate. Yes! É isso que eu quero!

Mas o melhor de tudo foi quando o postre chegou. A camarera colocou à minha frente um prato redondo inteiramente branco, a aba larguíssima decorada com sulcos em baixo relevo e um côncavo no centro quase na medida exata da bola de sorvete amarelinha que ele acomodava. O sorvete estava deitado numa espécie de pão-de-ló crocante, redondo, na medida exata da bola. O espaço existente entre esta pequena torre de delícias e a borda do prato foi delicadamente preenchido com uma calda densa de chocolate quente, mais para creme que para sopa, que a camarera deixou cair pelo biquinho da pequena jarra de porcelana branca, contornando em negro o helado amarillo.

Impossível descrever o prazer que essa arquitetura me proporcionou! Não sei se isso é coisa de gente gulosa, mas desde quando minha memória alcança sempre gostei de saborear visualmente um prato antes de saboreá-lo propriamente, se é que me entendem. Fiquei tão encantada com a estética da sobremesa que comecei a procurar uma câmera para fotografá-la. Não tinha levado a minha, é claro, mas Pedro Doria sacou seu super iPhone e resolveu o problema (gracias, Pedro!).

Foto: Pedro Doria
Não é mesmo uma belezura?

* O título é fruto da parceria Chiquinho-Angélica.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Perdida por aí...

É assim que eu vou para a Fiesta de la Mercè.

Like a Rolling Stone.

Sevilha também vai de bike

Fotos: Anamaria Rossi

O primeiro contato que tive com um serviço de transporte público sobre duas rodas foi em Sevilha, em maio de 2008. Fiquei encantada com a idéia, mesmo sem gostar de pedalar.

É muito civilizado esse negócio de compartilhar um bem público de uso privado! Sem falar que faz bem para a saúde de quem pedala e de quem não pedala, evitando a descarga de sei lá quantas toneladas de monóxido de carbono no ar da cidade.


Em Sevilha, o SEVici funciona mais ou menos da mesma forma que o Bicing em Barcelona, com uma pequena diferença nas tarifas. Lá, como aqui, as duas rodas são o principal meio de transporte - depois da boa e velha sola de sapato, é claro.


É uma pena que ainda não haja nada parecido em Madri.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Uma cidade sobre rodas. Duas.

Fotos: Anamaria Rossi

Dizem por aqui que o melhor de se viver em uma cidade como Barcelona é poder fazer tudo a pé. Tudo é um exagero, mas é possível percorrer boa parte da cidade gastando apenas sola de sapato. E se você estiver munido de um passe de metrô e ônibus, aí sim pode ir a qualquer lugar, e em pouco tempo.

Mas há uma verdadeira multidão que não se contenta com isso. É inacreditável a quantidade de bicicletas e vespas que se embrenham por entre os carros e os pedestres, num bailado todo especial e por vezes caótico.

Há uma infinidade de ruelas estreitas por onde um carro, quando passa, passa bem apertado, empurrando os pedestres para a calçada igualmente estreita. Estacionar o carro? Nem pensar. Em compensação, o que não falta é estacionamento exclusivo para motos e bikes, às vezes ocupando parte da calçada para não impedir completamente o tráfego de veículos.

Barcelona é uma das poucas cidades da Espanha que dispõem de um serviço de transporte público sobre duas rodas, o Bicing. Você paga uma tarifa anual de 30 euros e pode usar qualquer uma das bicicletas públicas encontradas em uma das 418 estações espalhadas pela cidade. Coisa de primeiro mundo.


Funciona assim: você se inscreve pela internet, recebe o cartão em casa, vai com ele até a estação mais próxima, escolhe uma bike e sai pedalando; depois devolve a bike em qualquer estação da cidade. Os primeiros 30 minutos do percurso estão incluídos na tarifa anual; depois disso, paga-se 50 centavos a cada meia hora. O prazo máximo permitido por percurso é de duas horas, se passar disso leva multa.

Não há dia em que eu não cruze com pelo menos duas vans do Bicing fazendo a manutenção das bikes. As que precisam de oficina são recolhidas numa pequena carreta puxada pela van, e substituídas por outras. Dá gosto de ver!

A bicicleta está tão incorporada à rotina da cidade que você pode levar a sua no metrô, se quiser. Quem não tem lugar para guardar dentro de casa pendura a bike no balcão sem a menor cerimônia. Oficina de bicicleta é a coisa mais fácil de encontrar na vizinhança.

Alugar uma é melhor alternativa para os turistas, e há muitos deles na onda. Tanto que a agência oficial de turismo dispõe de um serviço de aluguel de bicicletas, o Barcelona Bici, e oferece sugestões de roteiros diurnos e noturnos sobre duas rodas, com ou sem motor.

Foto: Ceci Gervaso

Cá entre nós, confesso que ainda não experimentei, e acho mesmo que vou ficar na dupla sola de sapato-bilhete de metrô. Adoro as bikes, dou o maior apoio, mas pedalar não é o meu barato. Em compensação, os dois pares de tênis que eu trouxe já-já vão precisar de meia-sola...

Seu doutô, me dê licença



Vaca Estrela e Boi Fubá
Patativa do Assaré

Seu doutô, me dê licença / Pra minha história contá
Hoje eu tô em terra estranha / É bem triste o meu pená
Eu já fui muito feliz / Vivendo no meu lugá
Eu tinha cavalo bão / Gostava de campear
Todo dia eu aboiava / Na porteira do curral

Êeeeiaaaa / Êeee vaca Estrela / Ôoooo boi Fubá

Eu sô filho do Nordeste / Não nego meu naturá
Mas uma seca medonha / Me tangeu de lá prá cá
Lá eu tinha o meu gadinho / Não é bão nem imaginá
Minha linda vaca Estrela / E o meu belo boi Fubá
Quando era de tardinha / Eu começava aboiá

Êeeeiaaaa / Êeee vaca Estrela / Ôoooo boi Fubá

Aquela seca medonha / Fez tudo se atrapaiá
Não nasceu capim no campo / Para o gado sustentá
O sertão se esturricô / Fez o açude secá
Morreu minha vaca Estrela / Se acabô meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto eu tinha / Nunca mais pude aboiá

Êeeeiaaaa / Êeee vaca Estrela / Ôoooo boi Fubá

Hoje nas terra do Sul / Longe do torrão natal
Quando vejo em minha frente / Uma boiada a passá
As águas corre nos óio / Começo logo a chorá
Me lembro a vaca Estrela / Me lembro meu boi Fubá
Com sodade do Nordeste / Dá vontade de aboiá

Êeeeiaaaa / Êeee vaca Estrela / Ôoooo boi Fubá

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Quatro palmos e dois dedos

Foto: Anamaria Rossi

Pensam que é fácil morar num prédio construído na Idade Média?

Trata-se de uma zona urbana preservada, onde só circulam carros em alguns trechos e em determinados horários. E, é claro, os trechos não incluem a minha rua. Tampouco o tráfego estava liberado quando Chiquinho chegou com a poltrona de vaquinha que já tinha lugar reservado no meu quarto.

Resultado: eu e Angélica atravessamos todo o Passeig del Born carregando o discreto mimo, como se nada, desviando dos transeuntes até que ela teve a brilhante idéia de irmos pelo meio da rua, já que não havia carros. O mico só não foi maior que o dos sujeitos que cruzei dia desses transportando um sofá de três lugares no metrô. Mas o deles não era de vaquinha!

Foto: Chiquinho Amaral

Chegamos esbaforidas à porta do prédio, mas com alguma esperança de levar a poltrona pela escada até o primeiro andar, onde moro. Doce ilusão! Cinco degraus e a dita-cuja estava entalada na escada, que mede exatos quatro palmos e dois dedos de largura. A cadeira tem dois dedos a mais e não houve maneira de subir com ela.

Corri à creperia onde trabalha uma uruguaia que mora na vizinhança. Mira, chica, tenho um pequeno problema. Preciso subir uma poltrona até meu piso e ela está entalada na escada. Conhece alguém que tenha uma corda e possa subi-la pela janela? "Ni idea", foi a resposta.

Chiquinho ainda perguntou se não havia aqui por perto uma loja de reforma de sofás. Nada. O máximo que encontrei foi eletricista e lampista.

Foto: Anamaria Rossi

Sem alternativa, só nos restou deixar a cadeira num canto da rua e sair para almoçar. Não sem antes registrar o ridículo da cena, por supuesto!

Voltei no final da tarde e minha vaquinha ainda estava lá. Se ela sobreviver a esta noite, juro que amanhã compro uma corda.

Update da madrugada:

Não faz duas horas que o caminhão da BCNeta, que uma vez por semana leva os objetos de grande porte deixados na rua, passou por aqui e recolheu minha vaquinha aos costumes.

Em tempo: A coisa é pior do que eu pensava. Fui lá conferir e constatei que a escada não mede quatro palmos e dois dedos, mas três palmos e dois dedos. Pode?

Coisas que não sei dizer

Foto: Anamaria Rossi

Para ouvir de olhos fechados...


Cuidado com a língua

O portuñol é uma invenção tipicamente brasileira. Damos um jeitinho aqui, uma acochambrada ali, fazemos uma pequena adaptación, se não der certo arriscamos um sinônimo – e vamos em frente. Pagamos mico com a cara mais lavada do planeta! No fim dá tudo certo – ou quase.

Foi assim que cheguei aqui um mês e meio atrás. Adaptando. Me enrolando nos ãos e ões, cometendo verdadeiros absurdos nas conjugações verbais, traduzindo literalmente as gírias brasileiras, hablando como uma primata. Em suma, fazendo todo mundo dar risada.

Não melhorei muito, confesso, embora depois de umas cañas a coisa flua melhor. Mas já tenho uma pequena coleção de dicas para compartilhar:

  • Nunca, jamais, em hipótese alguma entre numa loja para comprar durex e peça um durex. O mínimo que pode acontecer é te perguntarem o tamanho, você responder “grande” e o sujeito detrás do balcão te olhar meio atravessado. Se quiser evitar constrangimentos, peça uma cinta adhesiva. Caso contrário, corre o risco de sair da loja com um pacote de camisinhas tamanho GG.
  • Se tiver feito como eu e deixado para trás as roupas de inverno para não extrapolar o limite de bagagem, e, como eu, tiver o azar de os Correios brasileiros entrarem em greve quando sua amiga iria despachar a caixa com os casacos, nada que um moletom não resolva numa virada de tempo. A questão é saber como pedir um moletom. Você pode tentar todas as adaptações imagináveis, mas não tem a mínima chance de acertar. Porque, habla en serio, faz algum sentido usar uma roupa chamada de sudadera?
  • Vai passar apertado se precisar contratar um encanador. Turistas não têm esse problema, mas moradores têm. Você vai ao dicionário e ele te diz cañero. Você acha que vai encontrar algum cañero em Barcelona? Desista. Aqui só tem lampista. Dá pra entender?
  • Escritório é oficina, oficina é taller, talher é cubierto. Cobertor não existe, compre uma manta, mas ela pode ser apenas um objeto decorativo. Aí você vai precisar comprar um edredom, que felizmente é edredon mesmo. Mas eles vêm sem capa – e capa é funda. Funda nórdica! Mas cuidado para não confundir com fundo – que é fundo mesmo, em profundidade e em grana.
  • Equipamento é equipo, que também é time – faz sentido, não faz?
  • Longo é largo, largo é ancho, magro é flaco, fraco é débil. Força na peruca!
  • E nem tente ir ao peluquero sem saber explicar, na língua dele, o que você quer para a sua cabeleira. Pedir um simples desfiado pode ser uma verdadeira tortura. Está lá no dicionário: desfiar = deshilar. Mas diga isso ao peluquero! Aí toca tentar lembrar como se chama tesoura e, pior, descrever aquela tesoura cheia de falhas usada exatamente para... desfiar os cabelos. Arre égua!
  • Mas não precisa ficar vermelho quando tiver que pagar uma propina. Todo mundo paga, é liberado. E vai pegar mal se você não pagar. O taxista não vai gostar, nem o garçon.
  • Nem se avexe quando um espanhol mais afoito passar por você e comentar: Pero que culo, chica! Ele está apenas elogiando seu derrière... Só não deixe que te mandem ir a tomar por el... Aí já é demais!

Pena que ainda não consegui vaga no curso de Catalão. Aí é que a coisa vai ficar mesmo divertida!