quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Quem quer viver 100 anos?


Esta manhã, depois de bater perna por meu futuro novo bairro – finalmente encontrei um lar! – paro diante da banca de jornais na esperança de me reconectar com a realidade.

É dura a vida! Quase todos os diários destacam uma notícia sangrenta: Jovem espanhol mata esposa grávida com um tiro na cabeça, mas cesárea salva o bebê. E, claro, intrigas políticas e futebol. Nada muito diferente de uma banca brasileira.

Encontro o Público meio escondido debaixo de umas revistas de fofoca. O dono da banca, um catalão que se esforça por atender, em inglês, um casal de turistas, chega mais perto. Quero saber se o Público espanhol tem alguma relação com o Público português. “Não senhora. Este aqui é do Partido Socialista.” Está seguro de que, com essa informação (não checada, confesso), vou desistir do tablóide que ele tão cuidadosamente escondeu.

Sinto decepcioná-lo. Como resistir a um jornal que tem um suplemento de verão chamado Libre e cuja primeira chamada de capa é “El amor perjudica cada vez más la salud”? Pago um euro e nem espero chegar ao metrô. Tablóides são ótimos de ler enquanto caminhamos.

Lá dentro, a matéria ocupa três páginas, desde a capa do Libre. “El amor no sienta tan bien” é só o começo do delicioso texto do repórter madrilenho. O subtítulo avisa que a intimidade, o sexo e a vida a dois nos tornam mais propensos a certas doenças, de acordo com estudos recentes. Mas o que vem a seguir é uma brincadeira séria, inteligente e divertida sobre a profusão de verdades científicas que hoje condenam e amanhã consagram as mesmíssimas coisas.

Os personagens dessa comédia romântica são Pepa y Avelino, o casal que não dá a mínima para as substâncias cancerígenas produzidas pela combustão da parafina em seu jantar à luz de velas. Menos ainda para os hidrocarbonetos altamente tóxicos presentes na fumaça dos cigarros, “como se tivessem jantando em um poço petrolífero do Kwait incendiado pelas tropas de Sadam Husein”.

Contraponto? A centenária britânica Clara Meadmore, que acredita ter vivido 105 anos porque nunca, jamais, em momento algum de sua longuíssima vida teve uma – umazinha sequer - relação sexual.

Pensando bem, acho que 80 anos está de bom tamanho... O amor me cai muito bem!

O amor em baixa

  • Câncer – a alta atividade sexual na juventude pode desembocar em um tumor de próstata
  • Males respiratórios – a combustão de velas gera substâncias que podem causar neoplasias e asma
  • Abatimento – adolescentes apaixonados estão mais expostos à depressão
  • Pandemias – quem não evita beijos e contato físico pode contrair o vírus da gripe A

O amor em alta

  • Coração - alguns cardiologistas recomendam sexo para prevenir doenças cardíacas
  • Sistema circulatório – os abraços reduzem a pressão arterial em situações aflitivas
  • Psicologia – relações sexuais com penetração reduzem os níveis de estresse
  • Defesa – dormir com alguém duas vezes por semana melhora a imunidade

Fonte: Público, Edición Catalunya, 26 de agosto de 2009

Em tempo

A notícia sobre o assassinato da jovem grávida ocupa um pé de página na sessão de Atualidades. Foi a trigésima quinta vítima fatal feminina morta por um companheiro, na Espanha, somente em 2009. Mas isso é outra história, tema para outro post - até porque não se trata de amor, mas de uma aberração cultural.

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