quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Contagem regressiva

Fotos: Anamaria Rossi

Pois é, não foi em Gracia, mas encontrei finalmente un piso. Pequeno, ajeitadinho, simples, mobiliado e – o que é melhor – a menos de 500 metros da escola. Um pouco mais caro do que eu gostaria, mas com o que vou economizar em transporte, como dizem os espanhóis, dá igual.

O problema é que, por aqui, as coisas andam num ritmo diferente. Um pouco mais lento, se me entendem. Não sei se é agosto, se é o calor, se é a cultura. Sei que levei duas semanas para conseguir visitar cinco apartamentos, e ainda tenho que esperar mais uma semana in-tei-ri-nha para cumprir as formalidades burocráticas e tomar posse do meu diminuto lar barcelonês.

Paciência nunca foi o meu forte. Mas pior que esperar é a sensação de que, enquanto o primeiro passo não se completa, fico como que suspensa no tempo, flutuando em câmera lenta entre a velha e a nova realidade. E a vida não começa.

Sei que tudo isso é bobagem, principalmente considerando que vou morar bem no coração da Cidade Velha, a 200 metros da Catedral de Barcelona e exatamente atrás do Mercado de Santa Caterina, onde há dezenas de bancas de frutas e verduras fresquinhas, padaria com croissants e pães de todos os tipos imagináveis, pescados, especiarias, enfim, tudo o que enche os olhos e esvazia os bolsos de uma aprendiz de cozinheira.

O prédio é antiqüíssimo! O anúncio dizia que tem mais de 100 anos. Muuuuuito mais! O bairro foi um importante centro de comércio regional na Idade Média, de quando data a maior parte de suas construções. Para chegar em casa, preciso me embrenhar por um labirinto de vielas estreitas, umas mais e outras menos escuras, como se entrasse numa densa floresta de pedra – uma verdadeira viagem no tempo. Abro uma porta estreita, subo 67 degraus igualmente estreitos e... ya está!

É claro que o piso foi reformado, caso contrário seria um verdadeiro mausoléu. Quarto, sala/cozinha e banheiro. Pronto, acabou. A máquina de lavar fica na cozinha. Mas onde estão os varais? Ora, ora. O corretor me aponta a janela. Sim, ali estão os varais, como uma extensão decorativa da sala. Não é sensacional? Minhas roupas molhadas ficarão suspensas sobre a rua, quatro andares acima e à vista de todos os passantes. Quando na vida terei outra experiência tão... digamos... comunitária?



4 comentários:

  1. Gostei da notícia. Agora sim começa o novo ciclo. Adorei o lugar, você pirar por ai mulher..sensacional...beijos

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  2. A-mei, Ana, tudo a ver com você e o projeto que foi desenvolver aí nessa doida terra. Tomara que dê tempo de ir te visitar e conferir tal chuva de roupas sobre os passantes in loco... Tomara seja como a do Caetano, "gotas de leite bom na minha cara/ Chuva do mesmo bom sobre os caretas/ la mala leche para los 'puretas'"

    Toda & toda sorte na nova morada!!!!!!!!!!!!1

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  3. Maravilhooooooooooooooooooooooooooso!
    Um ap com mais de 100 anos!!!! Delíííííícia!

    Agora, você está intimada a escrever um post inteirinho sobre como é trazer suas calcinhas a público para secarem ao léu!

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  4. Não consigo pensar em outra coisa: terei que comprar umas calcinhas bem coloridas, senão a paisagem vai ficar muito sem graça...

    Beijos, meninas do meu coração.

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