Doñana chegou dois minutos atrasada para a aula de Pastelería, e todos olharam espantados para o seu vestido florido. Já estavam em beca de chef, em pé ao redor da enorme mesa de mármore branco, mesmo sem terem sido apresentados ainda a um batedor de claras.
O monitor da classe, um francês com cara de brasileiro tentando falar castellano, não fez o mínimo esforço para ser agradável. Bem francês. A salvação de Doñana foi o Chef, o próprio, francês pero simpático.
“O problema é que não se pode fazer aula de cozinha de vestido”, disse a ela, meio sem graça. Ao que Doñana respondeu, em portunhol sofrível: “Eu não imaginava que teria uma aula prática já no primeiro dia!” Silêncio. Mais silêncio. O monitor só mirando de rabo de olho. “Venga, no pasa nada.” Ufa! O Chef lhe entregou a beca e o adelantal, y ya está. Sentiu-se absolutamente linda em seu novo traje branco.
O Chef começa a aula apresentando a cozinha. Chama a atenção para o congelador e o forno, “os segredos da boa pastelería”. Volta para a cabeceira da mesa e abre o livro diretamente na página da receita. Financier con Arándanos (algo como Madalenas com Blueberries). Amêndoas moídas, açúcar, mel, farinha de trigo, claras de ovo, manteiga.
Disseca os ingredientes: tipos, propriedades, vantagens e desvantagens, usos e desusos de cada um. Distribui potes com amêndoas de todos os tipos e açúcares de todas as origens para os alunos provarem – visão, tato, olfato, paladar. Demonstra no fogão de chapas indutoras como clarificar a manteiga e caramelizar ligeiramente o restinho de soro no fundo da panela. Depois, mãos à massa.
Ver é fácil, duro mesmo é repetir os movimentos cadenciados e harmônicos do Chef. Haja coordenação motora! Doñana formou dupla com a catalã que estava ao seu lado, Izabel, e foi logo avisando: “Não falo catalão”.
(Que mierda!, pensava ela toda vez que um aluno fazia perguntas no idioma da terra, mesmo sabendo que os estrangeiros da turma falam no máximo o castellano. Tudo bem que o catalão é a língua nativa, mas Doñana acha um pouco arrogante obrigar os estrangeiros a entendê-lo.)
Pues Izabel entendeu de pronto a situação de nossa aprendiz. “No pasa nada. Hablo perfectamente el castellano.” E assim começaram a trabalhar.
Entre uma panela aqui, uma espátula ali, um pote de mel e uns arándanos no meio, as duplas trombavam no corre-corre, uma manteiga saía queimada, outra com muito soro, um batia depressa, outro devagar demais... E todos, rigorosamente todos, se lambuzaram de massa na hora de encher as forminhas com os sacos afunilados de confeitar (que aqui chamam demanga de pastelero).
Do forno para o freezer. E que freezer! Tem até nome próprio (que ela, lamentavelmente, esqueceu de me contar). Cinco minutos de resfriamento, sacam-se as madalenas das forminhas, provam-se algumas e – voilá! - o que sobra é dividido meio-a-meio pelas duplas.
Doñana saiu de lá com três saquinhos plásticos cheios de madalenas a tiracolo. “Na próxima semana tragam um tuper para levar o que fizerem”, avisa o Chef.
Tudo isso ela me contou quando passou por aqui, ontem à noite, e me ofereceu suas 14 madalenas ainda mornas. Estava alegre e entusiasmada dentro do vestido florido. Passei um café fresquinho, mas ela preferiu nem tocar nas madalenas, porque senão já viu.
Se Doñana seguir firme na dieta, parece que teremos degustação de docinhos no Born toda quarta-feira. Estão abertas as inscrições.
Eu, como não sou de ferro, comi a madalena que está faltando ali na foto... E dou minha palavra de que estava ótima!
Eita, noca, essa doñana tá um perigo, em? rs...
ResponderExcluirfiquei com água na boca, devo confessar. saudades, amiga. espero que fique muito bem servida com a Espanha. besos! muchos, muchacha! é assim mesmo que escreve? se não for, valeu a intenção. tchau, tchau e, mande mais delícias!
ai, eu aaaaamo madalenas!!!! especialmente as de chocolate... hummmmmmmm que envidia!
ResponderExcluirDoñana, suas madalenas são inspiradoras. Sabe o que faço agora para minhas crianças? Madalenas, bolinhos, cupcakes ou muffins. Não importa o nome, o que vale é ver minhas garotas com ar de "qué sé yo, viste!" Minha última invenção foram bolinhos de cenoura. Na verdade, uma adaptação do bolo de cenoura em forminhas. Depois, me encantei e tentei bolinhos de laranja. Peguei uma receita sem margarina, só claras batidas, gemas, igualmente batidas, una taza de zumo de naranja, harina y Royal (não sei como se diz aí, mas aqui na América do Sul, as hispânicas dizem Royal. Fotos da iguaria só tenho da primeira versão, a de cenoura. Admito que a de laranja ficou levíssima. Mas há gosto para tudo. Quer ver as fotos? Estão em http://www.flickr.com/photos/zilveti/3989230718/
ResponderExcluirDoñana, pra achar as forminhas, pastei um outro tanto. Descobri que o melhor era bater perna na 25 de março. Lá achei pacotinhos de 150 unidades. Aprendi lendo que vale a pena usar três de uma vez só para que não despenquem. Assim que saem do forno, dá pra reaproveitar duas delas. Comprei também seis de silicone, que servem como base. Quando sobra tempo, coloco cobertura, caso contrário, vão tal qual saem do forno. Minhas meninas estão encantadas, pois levam dois bolinhos para o lanche, um para o recreio e outro para a saída, até chegar ao ponto de ônibus, dois quarteirões abaixo, para esperar pelo Lapa 828-P.
Beijos em profusão.
Mari-Jô Zilveti
Uau, será um ano de aulas como essa? Que delícia...
ResponderExcluirMarcos
Ana, que bien!
ResponderExcluirPergunte ao Pedro o que se comia no café da manhã quando ele era "peque, muy peque..." E quem as comprava, na venda embaixo do prédio onde morávamos, era ele, juntamente com o "bollicao" para levar de lanche para a escola.
Pues, nada, te lo has hecho fenonemal. E que linda foto.
Saludos a Doñana.
Enhorabuena, mujer!
Se cuida Adriá e seu catalá!
Doñana manda agradecer os elogios... ;)
ResponderExcluirEla prometeu me dar a receita para fazer pra vocês na volta ao Brasil. Vamos ver se consigo.
Mari, aqui eles usam forminhas de silicone direto, sem forrar com as de papel. Nossa aprendiz pediu pra te dar essa dica. Ah! Ela quer a receita dos seus muffins e afins.
Beijos.
Graça, Pedro acabou de sair daqui com meia dúzia de madalenas na mochila! Isso porque a outra meia dúzia nós comemos no lanche, com mais uns pães de queijo - estes feitos por mim.
ResponderExcluirBesos.
CREIO QUE ESSA ENTRADA TRIUNFAL COM VESTIDO FLORIDO TENHA SIDO A PRIMEIRA MARCA BRASILEÑA DA DOÑANA NESSE CURSO. ACHO QUE ESSA MISTURA AINDA DÁ CALDO...
ResponderExcluirSAUDADES.
ÉRICA.